->Índice
1. O começo
1.1 A fase de
se aceitar
2.Descobrindo
2.2 O fim da depressão
3.Negro/Pobre/Gay
4.Por você/Considerações Finais
1. O Começo
Quero começar com uma frase da Madame C. J. Walker que diz: “Agora que
aprendi a contar minha história, não posso mais ficar em silêncio.”
-Vamos para uma
simples observação e espero ajudar aos muitos jovens que passam pela mesma
situação.
Então, como um
jovem decidi que deveria fazer um começo diferente do típico “Era uma vez” e
decidi começar com um simples “Então”.
Vamos lá para o
começo que se encontra em 2014.
Começando a relatar
a vida de um típico jovem de 19 anos que foi nascido e criado dentro do
estatuto religioso, que sempre teve o medo de viver fora daquela vida e que
parecia não fazer sentido viver sem estar preso no sistema, com o básico medo
de sair da igreja e ser lançado no inferno (lógico que na concepção humana).
Sabe, chega ser
engraçado mas é a realidade de muitos e no ano de 2014 estava começando a me
descobrir como um homossexual e já estava ficando estranho aquilo tudo ,acabei
desencadeando a depressão que infelizmente é vista como uma consequência do
“pecado”.
Os meses foram
passando, o desejo aumentando junto com o sentimento de repressão, aquela
angustia de que se me libertasse iria ser consumido e que nunca mais seria
feliz.
E claro, estando
dentro da igreja, tive um relacionamento com várias meninas adoráveis mas sabia
que aquilo não estava me satisfazendo, os desejos do meu corpo, do meu ser.
Lidando com meu “desejo carnal” reprimido, sempre chorando e querendo uma forma de morrer pra não viver
mais com esses sentimentos que estavam me fazendo viver querendo que cada dia
fosse o último, desejando ter o poder de acabar com aquilo.
1.1 A Fase Da Aceitação
No começo de 2015, estava
ativo com minha vida na igreja e fazendo várias viagens de ministério e
participando da gravação de um CD gospel decidi parar e fazer uma pequena
viagem para Buenos Aires e estava tudo indo bem, conheci pessoas maravilhosas,
fiz passeios incríveis, encontrei uma prima e seu esposo que estavam lá
passeando e posso dizer o quão perfeito estava sendo.
No penúltimo dia
fui convidado para cantar em uma igreja, e pensei: “Amanhã vou embora e quero
zoar”, então fui para um bar perto do hotel e marquei de encontrar um carinha
que havia conhecido.
Mandei uma
mensagem, bebi bastante vinho pra ficar engraçado e do nada chegou aquele cara,
ficamos naquele bar conversando e o mesmo me convidou para ir até a casa dele
(sei que fui um pouco irresponsável por estar em outro país e ir pra casa de um
estranho).
As horas foram se
passando, meu voo marcado pra bem cedo não quis saber e finalmente cheguei ao
apartamento dele, e sim, nós ficamos!
Tive minha primeira
experiência e tinha sido incrível, mas tive de me despedir para voltar no hotel
e arrumar minhas malas, peguei o taxi e finalmente estava no hotel. Fui dormir,
acordei e peguei o primeiro avião de volta pra casa.
Cheguei e se
passaram mais uns meses e decidi que iria aos poucos abrir mão de tudo e foi
quando tive um problema com a galera do coral e decidi abrir mão de gravar com
eles.
Ainda na igreja
conheci uma menina que colocou na cabeça que tinha de me namorar (Ainda essa
história), então ficamos em um relacionamento de quase 3 dias e decidi não
levar a frente, pois não podia viver mais na mentira de uma pessoa que não era
eu.
2.A Descoberta
Os meses se
passaram, tinha completado meu vigésimo aniversário e então decidi ir a
primeira parada LGBT DA MINHA VIDA.
Disse que iria com
uma amiga e lá fui eu, já no metrô aquela bagunça maravilhosa fiquei muito impressionado
e contente por ser eu mesmo e estar naquele lugar beijando pra caramba, até que
estava beijando um menino e para minha surpresa estava meu irmão gêmeo, junto
do meu primo e um amigo deles.
Eles olharam para mim fazendo sinal de
reprovação e foram embora.
Chegando em casa falei com minha amiga/irmã sobre o ocorrido, ela se
comoveu e pediu para que dormisse na casa dela, mas decidi ir pra casa e
enfrentar logo tudo...
Fiquei uns dias sem o meu gêmeo falar comigo, até que ele pediu uma
ajuda minha e decidi ajudá-lo.
Depois de um tempo decidi conversar com ele e disse sobre o ocorrido e
ele me disse:
“Quer ser gay? Seja, mas não conte para as pessoas”
E uns meses se passaram e já havia dito sobre com ele e meu irmão
caçula.
Até que no nosso aniversario de 21 anos ele me chamou e disse:
“Quer ser gay? Seja! Mas é pra ser mesmo e se alguém mexer contigo,
vai estar mexendo comigo. Vou meter a porrada!”
Gente, isso foi totalmente confortante, pois ele estava do meu lado!
Mais um tempo se passou e numa
tipa briga familiar decidi entrar no meio e gritei: EU SOU GAY!
Tudo se movimentou de uma forma tão louca que me deixou louco, claro
que não deve ser fácil para a família saber e aprender a lidar com um parente
gay, pensa só: viver perante uma família conservadora, com a mente totalmente
fechada para as pessoas, pois vivem que ser cristão é o único caminho.
Como assim o único caminho é viver obedecendo a doutrinas
estabelecidas pelos homens e não por Deus?
O tempo foi se passando e comecei aos poucos a me aceitar, pois temos
sim essa fase.
E temos que nos permitir viver cada processo, cada experiência de
aprendizado, pois devemos a cada dia procurar a evolução, a cada dia tentar ser
melhor.
Comecei a contar para meus amigos de perto e eles sempre diziam: já
sabia que você era gay, só precisava se aceitar.
E sim, descobri que tinha amigos únicos que abriram os braços para
mim, que me aceitaram e que vejo o quão amado sou e que aquilo seria uma luta
diária.
Dentro da minha casa posso dizer que não sou aceito, mas luto
diariamente para que me respeitem naquilo que sou.
E nesse tempo li uma frase que diz:
“Se for para
mudar, mude pela única pessoa que vale a pena: você.
2.2 O Fim Da Depressão
Os crentes (não todos) tem o prazer de dizer que a depressão é
totalmente e a falta de Deus.
Mas como eu poderia estar com depressão se estava renunciando o “tal
pecado” para ter uma vida reta perante o “DEUS”?
Comecei a entender que se fosse continuar dentro da igreja não estaria
sendo eu mesmo, sabe? Estaria vivendo uma verdade que não era mais a minha.
Comecei a observar que DEUS tinha algo para ser tratado no meu
interior, quero trazer esclarecimento que Deus é amor.
Se ele é amor, por qual motivo lançaria no inferno um casal gay que se
ama? Comecei a me perguntar se era isso mesmo e graças as pessoas iluminadas
que apareceram por intermédio de Deus e do Universo, pude entender que os Seres
Divinos tinham coisas mais importantes a fazer do que punir o povo LGBT.
Então graças a essas forças comecei a entender e comecei a passar por
uma espécie de tratamento de cura da depressão. Se dói? Muito!
Foram dias doloridos, continuava chorando e parecia que não ter fim.
Confesso que foi a minha fase
de mais noitadas, ferveção, boates, farras etc...
Não queria ficar em casa e não podia, pois tinha que ficar o máximo
afastado do meu quarto e não queria lembrar o sentimento voltando (e quem
quer?).
Mas quando finalmente me vi livre daquilo, comecei a me sentir único e
espetacular, sabe?
Nasceu um novo Fabio, um jovem GAY!
3.Negro/Pobre/Gay
Só o negro sente o que é o Racismo;
Só o gay sabe como é viver perante uma sociedade homofóbica;
Só o pobre sabe como é a discriminação social;
Imagina só ser esse combo completo?
Entre 2012 e 2017 o IBGE registrou que no Brasil o total de mortes por
racismo chegaram exatos 255 vítimas;
As pesquisas afirmam que a cada 16 horas 1 LGBT é morto vítima da
homofobia.
Sem contar a classe média baixa que aos poucos são engolidas pela a
grande tirania.
Permito-me sempre lembrar as vezes que tinha vergonha de reconhecer
minhas raízes, não como pobre, mas como ser negro.
Mas não me culpo, pois viver numa sociedade que tem o prazer de
discriminar o cidadão pela cor de sua pele, já crescemos não vivendo, mas sim
sobrevivendo.
Recentemente ouvi um jovem branco dizer numa roda de amigos a seguinte
frase:
“A polícia não foca só nos negros, vocês que se vitimizam”.
Oi?!
Na hora me senti ofendido, então disse:
“Não queira falar que negro se vitimiza, pois você não é negro e não
se encontra no lugar de fala.”
Sabe o que é você entrar dentro do ônibus e a pessoa se levantar só
por ter sentado ao lado e ficar te olhando de cima a baixo com cara de
recriminação e nojo?
Não!
Sabe o que é a polícia parar o transporte e mandar somente você
descer, te revistar e perguntar se é usuário de drogas só pela sua cor?
Não!
Então pedi para ele se calar, pois estava passando vergonha naquele
momento e estava feio.
Voltando para essa fase de aceitação comecei a ter um novo ciclo de
amizades.
Homens e mulheres negros de favelas do Rio de Janeiro e foi algo
surreal estar no meio do meu povo, da minha família de luta, de uma causa que
sempre vamos carregar e ouvi a seguinte frase:
“Existe uma
história do povo negro sem o Brasil, mas não existe uma história do Brasil sem
o povo negro.”
Posso dizer que fui agraciado por ter nascido preto, nasci com uma
história marcada na minha pele, nasci com a lembrança da luta dos ancestrais e
com a certeza de que não foi em vão e que a luta jamais terminará.
4.Por
você/Considerações Finais
Quero frisar algo: Você, negro/índio/Gay não tenha medo de suas
origens, quero focar primeiramente em todas as mulheres negras que lutam nessa
sociedade para ter um lugar de fala e também todas lutaram e hoje se tornaram
sementes para que nunca venhamos desistir de ser quem somos.
Venho aqui frisar nome de umas das pessoas:
Primeiramente a minha Bisavó Esmeralda Mendes de 96 anos que me disse:
“Filho, você gosta de homem? Então seja feliz e não deixe que ninguém
venha dizer que está errado, se permita viver esse amor.”
Também tenho que agradecer a Dandara, um símbolo da resistência negra
e do feminismo;
E também uma grande mulher chamada Marielle Franco, mulher preta, gay
e favelada, pois
foi silenciada defendendo o povo dela, e sim, é uma mulher que se
tornou referência na minha vida e virou uma semente. Uma das citações dela que
enraizou no meu ser é a seguinte:
“Quantos mais
precisarão morrer para que essa guerra acabe?”
Também a Machado de Assis, Martin Luther King Junior, Nelson Mandela e
ao Pastor Henrique Vieira e não me esquecer Júnior Dantas mais conhecido como o
Pequeno Príncipe Preto.
Essas são um pouco das pessoas que me inspiram ser quem sou.
Lutem pelos que são, não vamos deixar que a sociedade venha nos calar
por ser quem somos!
E não se esqueçam: Sejam Livres e Felizes!
“Sou o que sou pelo que nós somos.”
UBUNTU.
29/07/2020